Saturday, November 18, 2006

texto 3


Tinha acabado de receber a mensagem - não estava à espera de a receber tão depressa -, onde dizias que estavas a caminho dos Armazéns do Chiado.
Disse então à mulher que não sabe se está apaixonada, e que tinha acabado de vir ao meu encontro, que íamos buscar as chaves de minha casa. Tentei explicar-lhe resumidamente o que se estava a passar, enquanto observava as reacções dela. “Vê lá onde me estás a meter”, disse-me em determinado momento. Achei então que o melhor seria explicar-lhe mais detalhadamente a tua peça de teatro, explicar-lhe em que consistia, e como se insere no projecto que agora se desenvolve. Observei novamente as reacções dela. Respondeu-me que já tinha conhecimento da peça, que tinha até, há uns tempos atrás, visto cartazes de rua a anunciá-la... Enquanto tínhamos essa conversa, caminhávamos na tua direcção, na direcção do local onde tínhamos combinado encontrarmo-nos pela segunda vez, onde, ao chegarmos, ficámos à tua espera, enquanto ela falava sobre as razões de não saber se está apaixonada. Vi-te então a sair da Fnac. A minha reacção foi virar-me para a nossa espectadora e dizer-lhe que tu vinhas aí, para se comportar como bem entendesse, eu e tu, apenas, não iríamos falar, tu só irias devolver-me as chaves de casa. E então aproximaste-te e cumprimentaste a nossa segunda espectadora e sorriste-lhe, deste-me as chaves e com elas recebi o fim do sorriso que tinhas formado, seguido de uma expressão séria e... foste embora. Fiquei indignado. Pareceste-me frio, distante, quase agressivo (um problema de atitude teu, fiquei a saber mais tarde); mesmo assim, isso não me impediu de, nesse momento, esquecer a nossa segunda espectadora e concentrar-me em ti a ver-te ir embora… a subires as escadas rolantes em direcção à saída dos Armazéns do Chiado. Reparei que tinhas uma mochila contigo, reparei que tinhas umas calças de ganga azuis escuras (na primeira vez, apenas tinha reparado no casaco azul e no saco de papel), reparei no teu rabo... Em seguida virei-me para a segunda espectadora e disse-lhe algo… Não me lembro o quê em concreto, mas lembro-me da ideia, algo do género: “e assim foi”. Queria conversar com ela sobre mais alguns pormenores daquilo que estava a acontecer, mas tínhamos pouco tempo, e o pouco tempo que tivemos foi para falar sobretudo dela, sobre a sua convivência com um rapaz que considera interessante, sobre o seu medo em perder a liberdade que tem neste momento, sobre a desilusão, sobre como iria ser o próximo encontro deles, sobre uma viagem que vamos deixar de fazer, sobre o facto de eu estar atrasado porque tinha um jantar combinado - nessa noite ia haver em casa de uns amigos meus um churrasco de S. Francisco, um acontecimento que iríamos comemorar em Lisboa – até nos despedirmos com a promessa de nos encontrarmos dentro de alguns dias para conversarmos com mais calma.
Fui então ao encontro daqueles que eu considero os meus primeiros espectadores individuais, embora existam duas pessoas que já o tinham sido. Duas pessoas a quem eu já tinha explicado a criação do projecto, mesmo antes de saber se íamos com ele em a frente ou não; por isso, essas duas pessoas prefiro considerá-las como os primeiros potenciais espectadores, caso fôssemos adiante com isto. Uma delas penso que se tornará numa daquelas pessoas que passou pela minha vida e que o tempo se encarregará de a levar com o passado, a outra não. A outra é a Paula, de quem já te falei.
Como estava a dizer, fui ter com os meus primeiros espectadores individuais: o Jo e a Patrícia. São namorados. O Jo tem um novo corte de cabelo e nessa noite vi-o pela primeira vez com o cabelo curto, quase rapado. Nunca o tinha visto com o cabelo tão curto. Disse-lhe que parecia mais velho, embora achasse que o corte lhe ficava bem. O corte anterior também lhe ficava bem, no entanto, quando lho vi dessa vez, disse-lhe. (Não gostava muito do corte que ele sempre tivera quando vivemos juntos em Coimbra). Desde que ele voltou de Espanha para Portugal, para Lisboa, todos os cortes de cabelo que lhe tenho visto ficavam-lhe bem. Em relação a ele também tenho a dizer que considero que, fisicamente, está a ficar cada vez mais bonito. A Patrícia é uma mulher espanhola linda. O sotaque dela adequa-se perfeitamente à sua beleza física e à sua personalidade. Não foi a primeira vez, mas recordo-me perfeitamente do quanto ela me deslumbrou há relativamente pouco tempo: andava com ela e o Jo às compras, queríamos comprar roupa, essencialmente. Numa das lojas que entrámos ela foi experimentar um belo vestido com uns sapatos de salto alto a condizer; quando saiu do provador para mostrar como lhe ficava o conjunto foi um momento mágico. Um desses momentos de magia de Hollywood. Quando refiro isso é porque ela podia perfeitamente passar por uma dessas estrelas que brilham em Los Angeles, com todo o seu glamour, na apresentação de algum grande evento cinematográfico - gosto de fazer essa associação, penso ser a adequada. Nessa noite também me deslumbrou, lembro-me dela ter tentado mostrar-me os seus belos seios, não me recordo do motivo (ela também não)... estávamos a ter uma conversa que acho que foi mal interpretada por ambos, o que pode acontecer por existir algumas vezes dificuldade de comunicação devido à diferença das nossas línguas-mãe. Não sei… mas foi um momento divertidíssimo… Perguntei-lhe porque me estava a tentar mostrar as mamas e ela em seguida bateu-me. Desatámos ambos a rir desgovernadamente. Recuperámos passado algum tempo para em seguida discutirmos a representação fálica impressa no cunho das notas e moedas do Euro.